JOGANDO CONTRA O GOLEIRO-LINHA
29-10-2010 10:23
JOGANDO CONTRA O GOLEIRO-LINHA:
Como reverter essa desvantagem numérica.
Tem-se observado que equipes que disputam jogos de futsal em alto nível acabam sempre enfrentando os chamados “Goleiros-linha”. E o que se pode fazer para eliminar essa “vantagem numérica circunstancial” ? Pode-se reverter essa situação tornando-a desvantajosa para a equipe adversária?
O que chamo de “vantagem numérica circunstancial” surgiu como recurso a partir de meados da década de 90, com a abertura da regra do jogo, que permitiu que o goleiro passasse a jogar com os pés. No início tentou-se fazer com que os goleiros se adequassem ao novo recurso, porém, salvo algumas exceções, não era tão proveitoso, já que na época a maioria dos goleiros ainda não estava preparada para a realização da nova tarefa.
Notando isso, e com a brecha na regra, alguns treinadores começaram a utilizar jogadores de linha para executar a tarefa, selecionando os jogadores de melhor passe para realizar a função. E principalmente nos finais de jogos, onde a equipe precisa do resultado, aciona-se o goleiro-linha.
Entendendo até aqui esse mecanismo de ação, devemos nos ater aos métodos a serem adotados para que essa situação não tenha efeitos negativos em nossa equipe.
A primeira verificação a ser feita é a distância que a equipe adversária utiliza o recurso. Se estivermos numa quadra relativamente grande (a partir de 32m X 18m) e o goleiro-linha estiver na quadra adversária, a marcação pode ser mantida a inicial, pois um chute nessa distância, teoricamente, é fácil para o goleiro efetuar a defesa. Mas conforme houver a aproximação do goleiro-linha para a quadra de ataque, nossa preocupação deve redobrar.
Podemos usar dois tipos de marcação para retardar as ações do goleiro-linha: o “losango” e o “quadrado”.
“Marcação Losango”
No losango temos uma marcação de expectativa, onde se espera o adversário errar, mas que pode se configurar numa ação eficaz se bem utilizada. Nela o pivô deve sinalizar que estará marcando o goleiro-linha, e com ele os nossos dois alas deverão marcar o fixo e o ala da equipe adversária, fazendo uma linha de frente no mesmo esquema da marcação que comumente chamamos de “gangorra”, estando sempre o ala oposto ao homem da bola fazendo a cobertura juntamente com o pivô no centro da quadra (Quadro 1 e 2).
No fundo da quadra deverá estar o fixo, e este sim deve ter atenção redobrada nesse tipo de marcação, pois estará imbuído de marcar ala e pivô adversários (Quadro 3). Ele deve se movimentar de acordo com a trajetória da bola. Se a bola estiver na ala direita, o adversário postado no fundo da quadra e à ala direita deverá ser o marcado. Se estiver na ala esquerda, o adversário no fundo da quadra e à ala esquerda deve sofrer a mesma pressão. Dessa forma estaremos inibindo as ações dos jogadores de fundo que poderiam parecer estar livres de marcação.
Quadro 1. Quadro 2.
|
|
Quadro 3. Quadro 4.
|
|
Marcação “Quadrado”
Na marcação em forma de quadrado, formata-se o bloco de marcação, que nada mais é que uma defesa compacta, para que se posicione para marcar por zona. Essa marcação não é tão passiva, mas deve ser feita no momento certo, pois se for mal encaixada, pode ser fatal para nossa equipe. À frente do bloco se posicionam o pivô e um ala. Atrás o fixo e o outro ala (Quadro 5). Conforme a bola é passada entre os adversários, o bloco se movimenta acompanhando a trajetória da bola.
É possível realizar essa ação somente se todo o bloco estiver harmônico, caso contrário a abertura na marcação será facilmente encontrada. Essa ação é possibilitada por que dificilmente um adversário consegue infiltrar um passe longo e na diagonal com a compactação do bloco de marcação. Esse tipo de marcação possui um fator determinante para que seja ela a mais adotada por equipes de alto nível, é a real possibilidade que se apresenta de tomar a bola do goleiro-linha. Quando o goleiro passa a bola para uma das alas o bloco de marcação se move no sentido desta (Quadro 6). Como as ações ficam limitadas, o adversário que recebeu a bola irá devolve-la ao goleiro, e é a esse momento que se deve atentar.
Enquanto a bola viaja no sentido do goleiro, o marcador que estava no meio da quadra corre de maneira a se colocar entre o goleiro e o possível passe à ala oposta, ficando o goleiro obrigado a devolver a bola para a mesma ala, que nesse momento está bloqueada pelo marcador do primeiro passe do goleiro (Quadro 7). Assim temos uma situação de 1x 1, facilitando a roubada de bola, o que se configura numa ação eficaz e que possibilita até mesmo o tento a favor da equipe “desvantajosa”.
Quadro 5. Quadro 6.
|
|
Quadro 7.
|
Em ambas as marcações é preciso ter cuidado e muita atenção para que, se a bola entrar no fundo da quadra, ela não a cruze até a ala oposta, pois o adversário lá postado estará livre de marcação. E para que isso não aconteça o “bloco de marcação” deve estar atuando de forma uníssona, estando sempre compacto e atento às coberturas.
Uma outra situação que ocorre é quando o goleiro-linha se posiciona na ala e não no meio da quadra. Tentou-se simular algumas situações dessa em quadra e verificou-se que para esse tipo de situação a melhor marcação a ser adotada é a do quadrado (Figura 8). Quando a bola estiver em uma das alas, o bloco de marcação se movimenta todo para esse lado. A diferença é que o marcador que estiver em oposição ao homem da bola, fazendo a cobertura, deve adiantar-se um pouco ao bloco para que dificulte ou até elimine a linha de passe com a ala oposta. Dessa forma estaremos novamente numa situação de 1 x 1, facilitando as ações defensivas da equipe na quadra.
Quadro 8.
|
É preciso que se preparem sistematicamente as equipes de futsal para enfrentar essa e outras desvantagens numéricas em quadra. Atentando aos tipos de marcação, serão minimizadas significantemente as ações adversárias, e essas situações não serão tão desfavoráveis, podendo até se tornar vantajosas.
Independente dos tipos de treino aplicados é preciso que ocorram cada vez mais simulações que se assemelhem às situações reais de jogo. Quanto mais vezes forem repetidas e esclarecidas as particularidades de cada situação, melhores elas serão compreendidas, otimizando as ações dos atletas em quadra.
Autor: Carlos Henrique Simões
Técnico de Futsal da AEST-ES
Aux. Téc. da Sel. Capixaba de Futsal Sub-20
Trein. de Gol. da Sel. Capixaba de Beach Soccer
Tags:
———
Voltar