Treinamento de força na infância e adolescência: buscando um melhor desempenho recreativo e esportivo.

10-12-2010 15:58

RESUMO:

             Esse artigo retrata de forma superficial os benefícios e as particularidades de um treinamento de força aplicado nos períodos do desenvolvimento humano, conhecidos como infância e adolescência. O treinamento de força quando aplicado nos períodos citados anteriormente tem um potencial muito grande para um melhor desempenho esportivo e nas atividades recreativas.

Palavras Chaves: Treinamento de força, Força, Infância e adolescência.

ABSTRACT:

That article portrays in a superficial way the benefits and the particularities of a training of force applied in the periods of the human development, known as childhood and adolescence. The training of force when applied in the periods mentioned previously he/she has a very big potential for a better sporting acting and in the recreational activities.

Key words: Training of force, Forces, Childhood and adolescence.  

INTRODUÇÃO

             A força é uma das principais formas de exigência motora, daí a importância do treinamento principalmente na sua contribuição para o desempenho esportivo. São incontestáveis os benefícios promovidos pelo treinamento da fase adulta do ser humano, porém existe muita duvida na aplicação desse tipo de trabalho no período compreendido pela infância e adolescência.

             WEINECK (1986, 127) retratando-se ao treinamento de força para a criança e o adolescente cita: “o treinamento de força desempenha um papel importante na formação corporal polivalente das crianças e adolescentes”.

             A grande questão é se o treinamento de força pode realmente promover ganhos de força muscular, na criança e no adolescente ou até mesmo se esse treinamento pode acarretar ou não danos ao sistema músculo-esqueletico. Por isso a importância antes da prescrição, da identificação dos benefícios e das particularidades que envolvem o treinamento de força, nesse período da vida do individuo. Além da possibilidade de aprimoramento do desempenho não só esportivo, com também nas atividades recreativas.

CONSIDERAÇÕES FISIOLÓGICAS DO ORGANISMO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

             O treinamento desportivo ou a simples pratica de atividade física para a criança e o adolescente, não deve ser encarado ou simplificado ao treinamento de um adulto. Nós sabemos que o individuo nesta fase esta passando por diversas transformações, tanto a nível fisiológico quanto no aspecto psicológico. JOÃO GILBERTO CARAZZATO (1999) traz no seu artigo “atividade física na criança e adolescente”, o desenvolvimento físico em quatro etapas: a do conhecimento, do desenvolvimento neuropsicomotor, a do crescimento e a do desenvolvimento. Estas fases estão classificadas de forma cronológica do ser humano, em relação a sua maturação, óssea, física, mental e neurológica.

             Sabemos da importância de todas essas etapas, da sua influencia no futuro desempenho esportivo ou até na sua melhor desenvoltura na pratica de uma atividade recreativa. Vamos destacar e concentrar nossas discussões na fase do desenvolvimento mais precisamente na faixa etária compreendida entre os 10 aos 18 anos. Por entender que é nessa etapa da vida, em que os estímulos do treinamento irão refletir, durante toda a vida esportiva do individuo, de maneira positiva ou negativa.

             Segundo WEINECK (1991, 246) “... as crianças e os adolescentes ainda se encontram na fase do crescimento, onde surgem inúmeras alterações e particularidades físicas, psicológicas e psicossociais, que provocam conseqüências para atividade corporal ou esportiva e, portanto, para a capacidade de suportar carga”. Contudo iremos discutir algumas dessas modificações e particularidades fisiológicas do organismo nesta fase de crescimento e desenvolvimento do ser humano.

             Principalmente temos que entender que o crescimento corporal do individuo não se dar linearmente, mas em saltos. De acordo com WEINECK (1991), esses saltos no crescimento são mais marcantes no primeiro ano de vida e depois do período da puberdade. Outro fato é que esse crescimento pode ser de maneira harmônica ou desarmônica, com, por exemplo, o desenvolvimento ósseo que se pode dar mais rápido, do que dos órgãos.

             A seguir destacamos, o metabolismo basal onde nas crianças é superior ao do individuo adulto, devido o intenso processo de estruturação e de crescimento em que o mesmo necessita uma maior carga de vitaminas, nutrientes, minerais, minerais e proteínas. Podendo sua ingesta alimentar atingir te 2,5 gramas por kilograma de peso (WEINECK 1991, 249).

             Fato também importante é o acompanhamento do desenvolvimento ósseo e dos tecidos dos tendões, ligamentos e cartilaginoso, onde os mesmos ainda estão em maturação. Conforme WEINECK (1991) ossos nesta fase possui, uma maior flexibilidade e menos resistentes a pressão e a tração, por causa de um maior armazenamento de material orgânico mole e uma insuficiência das substancias intercelulares na formação dos tendões.

             FLECK e KRAEMER (1991) relatam ainda mais, no fato d que os discos epifisários estarem no processo de uma determinada carga, pode acarretar efeitos biológicos positivos ou negativos. Junto a isso relatamos que a musculatura do adolescente difere da do individuo adulto na constituição quantitativa de subestruturas da célula muscular (WEINECK apud BELL / GUERTHER / HAECKER 1983, 854). Destacamos também, o grande ganho de massa muscular e força muscular, perante o inicio da puberdade.

             Além disso, outra questão que difere o organismo adulto do da criança e do adolescente, que pode afetar o rendimento na atividade física é que no adulto o numero de glândulas sudoríparas, é maior, assim sua capacidade de compensação termorreguladora se torna superior (WEINECK apud BAR-OR 1983, 264). Por fim devemos levar também em consideração o desenvolvimento cerebral, que se dá rapidamente logo nos primeiros anos de vida. Porém, os estímulos locomotores para a formação das habilidades esportivas, devem ser dados respeitando a sua capacidade correspondendo à idade cronológica.

             Todas essas particularidades do organismo da criança e do adolescente, já levantados são fatores que devem ser levados em suma importância, na escolha de uma atividade física. Principalmente na elaboração de um programa de treinamento desportivo, para que não ocorram efeitos fisiológicos e nem psicossociais negativos. 

PARTICULARIDADES E BENEFÍCIOS DO TREINAMENTO DE FORÇA NA CRIANÇA E NO ADOLESCENTE

PARTICULARIDADES

             No tópico anterior discutimos um pouco as diferenças orgânicas da criança e d adolescente devido o processo de maturação. Tomaremos com isso, o ponto de partida para retratarmos algumas das principais particularidades e cuidados na prescrição de um treinamento de força.

             Muitos professores e treinadores têm receio na utilização do treinamento de força nesse período de maturação com medo de que o mesmo possa provoca algum tipo de lesão ou prejudicar o crescimento do individuo. Hoje são muitos os estudos científicos que contradizem estes pensamentos, já que se sabe que os principais fatores limitantes na aplicação desse tipo de treinamento são os componentes motores passivos (ossos, tendões e ligamentos). Para não ocorra nenhum tipo de problema, de maneira geral os estímulos devem ser dosados, o treinamento muscular tem de ser de forma harmoniosa com o crescimento e a maturação, evitando a especialização precoce (WEINECK 1991).

             De acordo com WEINECK (1986), o treinamento de força na idade pré-escolar (3 a 7 anos) e n a primeira e segunda idade escolares (7 a 11anos) não deve ser aplicado, mas sim adaptações, utilizando os movimentos corporais naturais da criança, procurando trabalhar de maneira global, para atingir os componentes do aparelho motor tanto ativo quanto passivo. Posteriormente, respeitando e acompanhando o crescimento do individuo já é, aconselhado utilizar-se do próprio peso corporal e de pequenos instrumentos como medicine-ball, argolas e outros, com trabalhos dinâmicos, almejando a explosão e a tonificação geral e harmônica dos principais grupos musculares.

             Na fase da puberdade (12-13 aos 18-19) segundo WEINECK (1991), atenta para a pequena e passageira desarmonia nas dimensões corporais dificultando as relações de alavanca. Grande influencia hormonal na maturação, orgânica, principalmente óssea, tendo  assim uma capacidade  de suportar uma capacidade elevada menor. Contudo com o passar da idade nesta fase, já é possível treinamentos com métodos dinâmicos e estáticos, que irão refletir na força máxima do individuo, até mesmo pela utilização de cargas adicionais como o peso corporal do colega e instrumentos adaptados.

             Ao chegar na adolescência, o treinamento não difere muito o do adulto. Apenas estando atento à aplicação progressiva das cargas e as modificações morfológicas. 

BENEFÍCIOS

             De acordo com FLECK E KRAEMER (1999), o ganho de força e de potencia com o treinamento de força na criança e no adolescente, pode promover grandes benefícios, que o mesmo aplicado de forma correta, não acarreta nenhum dano no organismo por não envolver prioritariamente cargas máximas ou próximas à máxima. Os principais benefícios alcançados pelo treinamento de força são:

Aumento da força propriamente dita;
Aumento da resistência muscular localizada;
Desenvolvimento ósseo, devido aos coeficientes de tensão e compressão, fatores que estimulam a modelagem óssea (FLECK e KRAEMER apud CONROY et al, 1992).
Aumento da capacidade de tolerar tensão no esporte ou em atividades recreativas, evitando lesões;
Melhora o desempenho desportivo e recreativo.

             Como ocorre o aumento de força na criança e no adolescente através do treinamento é outra questão a ser discutida. Pesquisas atuais não conclusivas, já comprovam esse ganho, trazem também informações, que esclarecem algumas dúvidas da aplicação desse tipo de treinamento nessa fase da vida.

             Estudos científicos mostram que as adaptações neurais, ou melhor, a adaptação da capacidade funcional do sistema nervoso, induzem a maior parte do ganho de força observados em crianças (FLECK e KRAEMER apud RAMSAY et al, 1990). Segundo FLECK e KRAEMER (1999), esse ganho de força se dá, principalmente pelas “... mudanças nos músculos, nervos e tecido conjuntivo sugerem um aumento na qualidade do tecido muscular e da unidade neuromuscular”.

             Por fim o treinamento de força na criança e no adolescente, não estimula o aumento da testosterona como ocorre na fase adulta. Por ser só de forma natural, na fase púbere a maior ação hormonal promove o aumento da massa muscular e conseqüentemente o aumento da força (FLECK e KRAEMER, 1999).

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

             Diante de tudo que já foi dito, podemos concluir que o treinamento de força na criança e no adolescente é totalmente viável, trazendo benefícios que irão interferir, para um melhor desempenho esportivo e uma maior qualidade na desenvoltura de atividades recreativas. Pela promoção da força propriamente dita e até evitando lesões que são normais na prática dessas atividades de vida como os choques e as tensões.

             WEINECK (1991) chega a citar que: “... muitas crianças e jovens não alcançam mais tarde sua capacidade de desempenho, só porque os estímulos de desenvolvimento, estabelecidos durante os processos de crescimento para os aparelhos postural e motor, foram insuficientes”.

             Contudo durante a prescrição de um treinamento de força, não podemos, esquecer que a criança e o adolescente possuem particularidades nos campos fisiológico e psicossocial. Por isso devemos estar atentos e conscientes de que o individuo nesse período esta passando  por diversas transformações, tendo um menor poder de concentração, que nos leva a uma adaptação da forma de trabalho para que o treinamento se molde a essas características e particularidades.

BIBLIOGRAFIA

  1. GHORAYEB, Nabil. BARROS NETO, Turíbio Leite. O Exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. Editora Atheneu, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo horizonte. 1999.
  1. FLECK, Steven J. KRAEMER, William J. Fundamentos do treinamento de força muscular. Editora Artes Médicas, Porto alegre, RS;  2ª edição, 1999.
  1. McARDLE, William D. KATCH, Frank I. KATCH, Victor L. Fisiologia humana – energia, nutrição e desempenho humano. Editora Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, RJ. 4ª edição. 1998.
  1. WEINECK, Jürgen. Biologia do esporte. Editora Manole, São Paulo, SP, 1991. 
  2. WEINECK, Jürgen. Manual de treinamento esportivo. Editora Manole, São Paulo, SP, 1986.
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