OS SEIS PONTOS QUE INTERFEREM NO RENDIMENTO DO ATLETA DE FUTSAL

07-07-2010 10:57

1.  CONCENTRAÇÃO

A concentração pode ser definida como a focalização da atenção em um determinado objeto ou em uma ação (SAMULSKI, 2002), ou seja, a capacidade de dirigir com consciência a atenção a um ponto específico no campo da percepção.

Para Rubio (2000), o treinamento da concentração constitui a melhoria da capacidade de focalizar a atenção em um ponto específico do campo da percepção e a capacidade de manter um bom nível de concentração durante um longo período de tempo (resistência de concentração).

No âmbito esportivo, ela pode ser considerada como a habilidade de focalizar em estímulos relevantes do ambiente e de manter esse foco ao longo do evento esportivo

(WEINBERG & GOULD, 2001). Os atletas que descrevem seus melhores desempenhos inevitavelmente mencionam que estão completamente absorvidos no presente, focalizados na tarefa e realmente conscientes de seus próprios corpos e do ambiente externo.

As pesquisas indicam que os craques (atletas com alta capacidade) são capazes de analisar situações mais rapidamente e usar mais sinais antecipatórios do que a média dos outros atletas (ABERNATHY, 1993). Ser capaz de analisar uma situação para saber o que fazer – e possivelmente o que seu adversário está para fazer – é a chave da habilidade de atenção.

Segundo Samulski (1998), a concentração de um atleta pode ser aprimorada por meio de técnicas de concentração, visualização ou exercícios de relaxamento. Essas técnicas podem ser utilizadas periodicamente, durante o período de treinamento e antes de uma competição.

Syer e Connolly (1984) propõem algumas diretrizes para o desenvolvimento da concentração, como conhecer os fatores de distração, manter-se rigorosamente na rotina de aquecimento, preparar pensamentos padronizados que possam ser utilizados quando ocorrer alguma distração durante a competição, respirar profundamente e relaxar.

 2. MOTIVAÇÃO

A idéia de motivação remete-nos “a uma força interna”, que impulsiona determinadas ações. Na verdade, essa “força” não está dentro do atleta, mas no ambiente no qual está inserido. O estudo da motivação é definido por Catania (1984) como estudo das condições

que determinam à efetividade do estímulo contingente como reforçador ou punidor. Ele considera a motivação um termo aplicado às muitas variáveis ambientais e orgânicas que tornam determinados estímulos significativos para o organismo.

O termo motivação refere-se a fatores e processos que levam as pessoas à ação ou à inércia em determinadas situações. As razões que impulsionam os atletas em direção a determinados comportamentos não podem ser reduzidas a conceitos rígidos, pois variam de acordo com a história de vida do atleta e as contingências do ambiente, ou seja, um atleta escolhe determinado esporte e participa dele com determinada intensidade e dedicação de acordo com experiências anteriores ou situações recentes (CRATTY, 1984),

Para Samulski (1995), “a motivação é um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais (extrínsecos)”.

A literatura da motivação discute conceitos importantes, como motivação intrínseca e recompensas externas.

Weinberg e Gould (1984) definem motivação intrínseca pela participação de um atleta em determinada atividade sem recompensa externa. A motivação extrínseca refere-se às recompensas externas, como medalhas, dinheiro ou prêmios, que o atleta recebe.

Pesquisadores da área defendem que um atleta se engaja em determinada atividade motivado por um somatório de fatores intrínsecos e recompensas externas.

Tutko e Richards (1994) reiteram que, provavelmente, o papel mais importante que

um treinador desempenha é o de motivador. Sua personalidade, convicção, fins e técnicas de motivação é um dos principais elementos para o desenvolvimento das atitudes de seus jogadores e para o grau de sucesso que estes alcançarão. Portanto, necessita analisar sua própria teoria de motivação e examinar seus enfoques dessas qualidades que pensa serem importantes para obter o resultado.

Becker jr. (1996), defini a motivação como um fator muito importante na busca de qualquer objetivo, pelo ser humano. Os treinadores reconhecem este fato como sendo principal, tanto nos treinamentos como nas competições. Assim sendo, a motivação é um

elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de treinamento.

De acordo com Bergamini (1991), a função motivacional do líder consiste em recompensar os subordinados pelo alcance dos objetivos traçados, esclarecer as dúvidas, eliminar os problemas e aumentar as possibilidades de que estes estejam satisfeitos com o trabalho que desempenham.

Neste sentido, Chellanduri e Arnott (1985) relacionam a motivação do esportista com a liderança do treinador. A conduta do treinador é dar apoio social, treinamento, instrução e feedback positivo. A motivação do esportista é um ciclo que começa com a motivação, que gera esforço, que produz rendimento, que proporciona uma recompensa, que gera satisfação e conseqüentemente, motivação, fechando o ciclo.

Para Harter (1978), a falta de motivação conduzirá ao aumento da tensão emocional, problemas disciplinares, aborrecimento, fadiga e rendimento ineficiente. Portanto, quando há motivação, a realização dos objetivos se torna mais amena e também mais interessante. As pessoas altamente motivadas para a realização são persistentes no seu comportamento, buscando assim sucesso na sua atividade (BERGAMINI, 1991).

Samulski (1986, P. 14), “Sobre técnicas de auto-motivação compreende-se todas aquelas medidas que uma pessoa aplica assumindo o controle sobre seu próprio comportamento, para regular seu nível de motivação”.

Em outra referência Samulski (1998) descreve algumas técnicas de automotivação que podem ser utilizadas por atletas de alto rendimento. Muitos atletas motivam-se por meio da imaginação de suas capacidades positivas, utilizando mentalizações como: “eu consigo fazer isto”, “eu acredito na minha preparação”, “eu confio na minha técnica”. Alguns atletas também se utilizam de auto-reforços materiais (comprar um presente para si próprio) ou auto-elogios.

Outra estratégia para manter-se motivado é o estabelecimento de metas concretas a curto e longo prazo.

3. COESÃO DE GRUPO

A união ou coesão de um time é fundamental para o bom desempenho esportivo dos atletas. No esporte, o objetivo é vencer uma partida ou um campeonato, o que, em parte, depende do esforço coordenado da equipe ou do trabalho de equipe.

Para Weinberg e Gould (2001), a coesão relacionada à tarefa reflete o grau em que membros de um grupo trabalham juntos para alcançar objetivos comuns.

Carron (1982) define coesão como um processo dinâmico que reflete na tendência do grupo em permanecer junto perseguindo metas e objetivos comuns.

O nível de coesão é maior em grupos pequenos, em grupos muito grandes a coesão é menor e o mesmo tende a se subdividir em subgrupos, dificultando o relacionamento entre os atletas. A proximidade física também é um fator que aumenta a coesão.

É comum perceber que times que passam a pré-temporada em um mesmo local ficam mais unidos, pois estabelecem uma maior comunicação entre os mesmos. Portanto, o grupo deve ser uma só unidade, não havendo preferências entre seus integrantes.

Segundo Johnson (in KOHN, 1986), os indivíduos que se sentem aceitos pelo grupo, exploram com mais segurança e liberdade os problemas que aparecem. Assumem riscos, analisam suas capacidades e estão mais abertos a aceitarem os seus erros e aprenderem com eles.

Para aumentar a coesão do grupo é importante ter bem claro que a coesão define-se pela união do grupo em busca dos mesmos objetivos, portanto é necessário que esses objetivos sejam claramente definidos e que sofram mudanças de acordo com o progresso do grupo. É importante também que se encoraje à competição positiva dentro do time, para que os atletas possam juntos alcançar uma melhora de desempenho, e que cada atleta tenha seu papel muito bem definido para que todos se sintam responsáveis pelo sucesso da equipe.

Evitar as “panelinhas”, a excessiva rotatividade de pessoal, realizar encontros periódicos entre os membros da equipe e estabelecer metas desafiadoras de grupo são algumas diretrizes para o aumento da coesão de grupo segundo Weinberg e Gould, 2001.

Outro fator importante para a coesão grupal é que a comunicação entre atletas e entre atletas e comissão técnica seja respeitada.

Sendo assim, a coesão é um fenômeno complexo, dinâmico e variável ao longo do campeonato. A unidade da equipe é um alicerce sobre o qual o grupo irá crescer e ter sucesso e é essencial para a existência do grupo. Cabe ressaltar que a coesão de um grupo não aparece de uma hora para outra, sendo oportuno que atletas e comissão técnica trabalhem juntos para alcançá-la.

 4. ANSIEDADE

Os psicólogos do esporte vêm estudando a relação entre ansiedade e desempenho há décadas. Eles não chegaram a conclusões definitivas, mas esclarecem aspectos do processo que têm várias implicações para ajudar os atletas a reagirem e terem melhor desempenho, em vez de se deixarem abater e atuarem mal (WEINBERG e GOULD, 2001).

O atleta pode ter seu desempenho afetado positivamente ou negativamente em decorrência do estado emocional pré-competitivo.

A ansiedade é o termo usado para a emoção experimentada quando nos deparamos com eventos aversivos que podem nos causar dor. A exposição a ameaças causa mudanças fisiológicas que nos preparam para lidar com essas ameaças. Uma dessas mudanças é o estreitamento da atenção e, dessa maneira, o atleta fica menos sensível a estímulos externos, o que pode causar uma queda em seu desempenho global. As mudanças fisiológicas que ocorrem no organismo consumem muita energia, o que pode interferir em atividades de longa duração. O excesso de ansiedade causa um aumento de adrenalina, que pode fazer com que o atleta se apresse em executar ações que requerem atenção e cuidado.

Existem algumas estratégias que podem auxiliar o atleta a lidar com o excesso de ansiedade e tensão, como aprender a reconhecer e mudar pensamentos negativos, utilizar afirmações positivas, regular a respiração, manter o senso de humor e fazer relaxamento.

Segundo Fleury (2005), a ansiedade pré-competitiva é um estado emocional que se caracteriza por nervosismo, preocupação e apreensão que pode ser gerado por nossos pensamentos (ansiedade cognitiva) ou por reações fisiológicas (ansiedade somática).

Para Martens (apud VOSER, 2003), existem muitas causas para o aparecimento da ansiedade antes da competição, mas em geral, elas reduzem-se a dois fatores: A incerteza que os indivíduos possuem acerca do resultado e a importância que o resultado representa para os indivíduos.

Cratty (1983), afirma que nem toda a ansiedade é prejudicial. O bom desempenho requer um nível de ansiedade ótimo. Brandão (1995) concorda dizendo que quando isto acontece o atleta esta psicologicamente em controle.

Para Fleury (2005) certo grau de ansiedade pode melhorar o desempenho desde que os níveis fisiológicos não sejam excessivos, um pouco de tensão aumenta o esforço e a concentração de um atleta, o desempenho deteriora-se apenas sob as condições combinadas de preocupação mais ativação física excessiva (ativação física = tensão, batimento cardíaco, sudorese, etc.).

Para Júnior (1998) a ansiedade pode ser positiva ou negativa. Ela é positiva quando a ansiedade está adequada, existe uma estabilidade emotiva e o atleta possui uma personalidade sadia. Negativa quando existem tensões emocionais excessivas ou então o atleta não apresenta nenhum quadro de tensão emocional, ele se mostra ausente em relação à competição.

 5. PERSONALIDADE

Raramente o significado da palavra personalidade é claro para quem o usa, estando, muitas vezes, vagamente associado e relacionado, em uma primeira análise, com a idéia de habilidades sociais e, em uma segunda, com a avaliação da impressão marcante que o individuo causa em outras pessoas.

Os conceitos de personalidade variam dos mais simples (porém não menos importantes) até mais complexos, sendo que ambos apresentam uma dificuldade de entendimento e aceitação entre estudiosos e pesquisadores da área.

Butt, Cox e Weinberg & Gould apresentam similaridade no conceito de personalidade ao considerarem-na o conjunto de características que somadas, compreendem o caráter único de cada indivíduo.

Historicamente, uma das pesquisas mais realizadas em Psicologia do Esporte refere-se à relação entre personalidade e esporte (VEALEY, 1992), muitas comparando atletas e não atletas, esportes individuais e esportes coletivos, níveis distintos de rendimento, posição, sexo e as reações do atleta antes e depois de uma competição esportiva.

Lundin, (1972) baseado na teoria do reforço da aprendizagem, considera a personalidade como sendo o equipamento singular do comportamento que se adquire através de uma história de aprendizagem. Tal visão considera a personalidade como parte do campo geral da aprendizagem, tratando em particular os processos de aprendizagem que implicam no ajustamento do homem ao seu meio.

Segundo Jung (1981), a personalidade é uma semente que só pode se desenvolver em pequenas etapas durante a vida. Acrescenta que não é a criança, mas o adulto que pode alcançar a personalidade como fruto de uma vida cheia, orientada para este fim.

Para Hall et al. (1973), cada vez que um organismo aprende uma nova solução, desenvolve a personalidade, que evolui em resposta a quatro fontes principais de tensão: processo de crescimento psicológico, frustrações, conflitos, perigos. O aumento da tensão que emana dessas fontes obriga a pessoa a desenvolver novas maneiras de reduzir a tensão.

A definição de personalidade que mais vem sobrevivendo aos avanços do tema durante os anos é de Allport de 1937 (apud COX: p.21) preconizando que a personalidade é

“a organização dinâmica de sistemas psicofísicos do indivíduo que determinam ajustes únicos

ao seu ambiente”. Mais recentemente, Alonso apud Hernández - Ardieta et al. (p. 106) definiu

a personalidade como “organização mais ou menos estável e duradoura do caráter, temperamento, inteligência e constituição física de uma pessoa que determina sua forma peculiar de se ajustar ao ambiente e interagir com ele”. Nota-se que os autores não mencionaram somente características psicológicas em relação à personalidade, mas incluem às físicas, o que aponta para uma maior complexidade através da interação de diferentes variáveis.

A personalidade representa segundo, Hermann (1975:25), “um conjunto de características individuais, as quais são relativamente permanentes e estáveis”.

 6 LIDERANÇA

Embora o conceito de liderança tenha sido freqüentemente discutido e várias teorias tenham sido casualmente referenciadas na literatura esportiva, existe uma lacuna de verdades consistentes no estudo da liderança no esporte (LOY et alli, 1978, apud CHELLADURAI & SALEH, 1980).

De acordo com Chelladurai e Saleh (1980), a relevância da teoria da liderança no esporte torna-se rapidamente aparente quando as equipes esportivas são vistas dentro do contexto organizacional.

Liderança é a força vital de uma organização de sucesso, e uma liderança efetiva pode ajudar a organização a desenvolver novas direções e a promover mudanças em direção aos objetivos propostos (BENNIS & NANUS, 1985).

Griffin e Moorhead (1986) definiram liderança em termos de processo e propriedade.

Como processo, liderança significa o uso de influência não coercitiva para dirigir e coordenar atividades dos membros do grupo para alcançar uma meta. Como propriedade, significa as características atribuídas para aqueles que utilizam sua influência com sucesso.

Krettner e Kinick (1989) a definiram como um processo de influência social, no qual o líder procura por participação voluntária dos subordinados, num esforço em alcançar os objetivos da organização.

Do ponto de vista da organização, liderança é uma característica vital, porque ela exerce poderosa influência sobre um indivíduo ou grupo. Entretanto, devido ao fato dos objetivos aos quais o grupo dirige seus esforços serem sempre aqueles desejados pelo líder, eles podem não coincidir com os objetivos da organização.

Em suma, liderança significa habilidade em influenciar os outros no cumprimento de objetivos e metas organizacionais.

                                               Aramis Soares Goulart

 

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