AS REGRAS DO FUTSAL CONTRIBUEM PARA O DESENVOLVIMENTO TÁTICO DO DESPORTO?

04-08-2010 18:36

As regras de qualquer desporto servem para normatizar as ações dos mesmos, dentro de um limite de ações técnicas e disciplinares. A transgressão das regras gera de imediato, uma punição, que se reverte em benefício do adversário.

Porém o que queremos discutir é se uma seqüência de punições inibe ou estimula nosso atleta das categorias de base, no seu desenvolvimento técnico tático.

A criança só aprenderá, vivenciando, participando e que estas experiências sejam realmente educativas, longe das pequenas batalhas que invariavelmente se travam nos jogos das categorias de base.

Em primeiro lugar, muito se discute qual a melhor idade para começar a competir, considerando os aspectos físicos e psicológicos.

A evolução da fisiologia do exercício, nos últimos 20 anos responde a maioria das perguntas quanto ao aspecto físico. Já quanto ao psicológico, no que diz respeito às reações do indivíduo frente as diferentes facetas da competição, muito há ainda que pesquisar e responder, embora a presença do psicólogo na Comissão Técnica seja imprescindível e indiscutível.

Seguindo o nosso raciocínio, porque se critica tanto o início precoce no Futsal, quando na Ginástica Olímpica se começa aos 3,4 anos e um ginasta aos 19,20 é considerado um velho? Responder esta pergunta requer um pouco de atenção. A evolução da ciência, em geral e o bombardeamento de informações dos meios de comunicação, amadurece muito mais rápido um indivíduo do que há 15,20 anos atrás. O primeiro presente que um menino (e por que não as meninas?) recebe é uma bola de futebol. Começam no Futsal porque os espaços nas cidades cada vez são menores e porque quase todo mundo acha que o Futsal é um Futebol de Campo pequeno, o que não é totalmente mentira nem totalmente verdade. Alguns clubes de Futebol já descobriram a qualidade especial dos craques de campo, que começaram no Futsal. Isso pelo seu tempo de reação apurado, básico no Futsal e muito importante nos espaços de Futebol de campo, onde o jogo se  decide.

Então, a questão central é quem ensina o que, e qual a qualidade didática desses ensinamentos, e o que as regras ajudam ou poderiam ajudar na formação do atleta.

Estamos de acordo que o início ideal deva ser em torno dos 7 anos de idade, que coincide com a saída do chamado Jardim para a primeira série do primeiro grau. Neste momento a criança reconhece um grupo distinto do familiar e tem que repartir experiências fundamentais na natureza associativa do Futsal.

O que desmotiva as crianças nos primeiros anos de Futsal é, quase sempre, a má conduta de Pais e Treinadores (ainda que a nível inconsciente), preocupados uns em compensar suas frustrações e os outros só em suas aspirações pessoais. É comum o caso de Clubes que buscam jogadores de boa técnica e não se preocupam com a formação tática do jogador. Enquanto só a técnica e a estatura fazem diferença, ótimo. Depois o que se vê são os inúmeros exemplos de mini craques que desaparecem sem deixar vestígio, impedidos de chegar ao juvenil e ao adulto.

Outro exemplo são os jogadores que passam temporadas inteiras sentados no banco, com pouca ou nenhuma oportunidade de jogar, privilégio dado a 5,6 jogadores do plantel que tudo resolvem.

Existe também a desculpa de que jogador de primeiro ano de categoria não serve para nada mais que completar treino e perdem a oportunidade de vivenciar e aprender o que poderia ser útil, de imediato.

É neste momento que a mudança de regras, pelos menos nas categorias não oficias (as oficiais são infantil, juvenil e adulto) poderiam aportar algo mais que a punição ao atleta.

Sigamos os exemplos do voleibol e do basquete onde as regras se diferenciam nas categorias, de base para ajudar na formação do atleta. Os treinadores não se acomodam e tratam de trabalhar, corrigir e formar atletas, pois sabem que necessitam de gente qualificada para competir.

No futsal, já existem alguns bons exemplos, como o da Federação de São Paulo, que exige que todo mundo jogue pelo menos 5 minutos até a categoria Pré-Mirim, mas há muito por fazer como, por exemplo, diminuir o tamanho da baliza, que é muito grande para jogadores até mirim, acabar com laterais e escanteios batidos direto a área adversária (isto não se parece com nada que se vê no Futsal profissional). Não permitir que o goleiro chute ou passe para chutar direto ao campo adversário, quicando a bola, etc.

O que acontece é que um jogador de menos técnica acaba aprendendo a raciocinar melhor porque sabe que não vai resolver na habilidade e o jogador habilidoso, que não é incentivado a raciocinar porque nos satisfazemos com meia dúzia de dribles que possam dar.

Indiscutivelmente, nossos jogadores seguem sendo os melhores do mundo taticamente, mas precisamos melhorar a qualidade do que se oferece a nossa criança e a mudança da regra nas categorias iniciais como chupetinha, mamadeira, fraldinha, pré-mirim e mirim seria muito bom para fomentar uma preparação mais adequada.

É necessária esta revolução pedagógica, afinal são mudanças importantes que necessitam acontecer.

   Profs. Paulo Gambier e Fernando Ferretti

 

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