A capacidade cardiorrespiratória no futsal

03-12-2010 09:13

 

 

A capacidade cardiorrespiratória é de fundamental importância para as atividades desportivas independentemente do seu caráter (recreativo ou de rendimento). O sistema cardiorrespiratório é a essência do metabolismo humano, predominantemente aeróbico, presente na maioria das modalidades desportivas, quando não no momento da execução do gesto desportivo, insere-se na recuperação do esforço desprendido.

A utilização ou não do metabolismo aeróbico depende da fonte energética solicitada na execução do gesto desportivo característico da modalidade, da duração do esforço para a execução e da duração da competição (prova ou partida). Estes requisitos farão que o organismo solicite prioritariamente a via metabólica (fonte energética) necessária, podendo se a fosfagênica (ATP-CP), a glicolitica anaeróbica lática ou a aeróbica.

Vias energéticas

Duração do exercício

Disponibilidade de energia

Fosfagênica (ATP-CP)

Até 6 segundos

Imediata

Glicolitica (ATP-CP + ácido lático)

Até 3 minutos

Curto prazo

Aeróbico

Acima de 3 minutos

Longo prazo

Adaptado de Mc ARDLE, KATCH E KATCH, 1998.

 

Metabolicamente o futsal pode ser caracterizado como uma modalidade de solicitação mista, mas com predominância anaeróbica lática. Fato que pode ser comprovado pela elevada concentração de acido lático na corrente sanguínea dos atletas, algo em torno de 4 a 6mmol, após uma partida. Porém muitos técnicos e preparadores físicos atribuem ao futsal um caráter predominante aeróbico pela primazia dada ao treino aeróbico por muitos deles no período de preparação. Mas isto ocorre pelo desconhecimento da real razão do porque de se trabalhar a capacidade cardiorrespiratória, no período de pré-temporada no futsal.

O treinamento de ênfase cardiorrespiratória é realizado vista com  ao aprimoramento da capacidade do organismo de recuperação das reservas energéticas principalmente as de glicogênio, fosfato de creatina (creatinofosfato) e ATP. Além da reciclagem do acido lático (lactato) no fígado para síntese de glicogênio, com vistas à utilização para produção do ATP.

 

Avaliação da capacidade cardiorrespiratória

 

Existem diversos testes e protocolos para predição da capacidade cardiorrespiratória, utilizando meios variados para tal fim. Os mais comuns para esportes coletivos são os de pista, bicicleta e esteira. Atualmente podemos encontrar também os laboratoriais, empregados nos grandes centros esportivos dotados de laboratórios de fisiologia do exercício. Dentre estes podemos destacar os de esteira ou bicicleta com o uso do espirômetro, para medição e analise dos gases expirados pelos avaliados. As classificações dos resultados obtidos nos testes variam de autor para autor, mas guardam entre si semelhanças classificatórias. Marins e GIANNICHI (1998), citam o teste de 2400 metros de Cooper, como perfeitamente adequado a atletas, principalmente para modalidades de jogos com bola.

A principal unidade para mensuração da capacidade cardiorrespiratória é o VO2 max., autores como Pollock e Wilmore afirmam não ser possível estabelecer um nível especifico da capacidade aeróbica para fins de saúde. Se para a promoção de saúde que é menos complexa, não podemos estabelecer um nível, imagine para um desporto de solicitação metabólica próxima dos limites dos sistemas funcionais do individuo (atleta). Alguns fisiologistas entre eles o doutor Turíbio Leite afirmam que a limitação do VO2 max. parece ser o volume sistólico (volume ejetado pelo coração) na maioria dos indivíduos. "O valor do VO2 max. expressa quantitativamente a capacidade individual para ressíntese aeróbica do ATP. (...) A capacidade para alcançar um VO2 max. alto comporta um significado fisiológico importante além do seu papel em apoio do metabolismo energético constante, pois uma alta capacidade aeróbica requer a resposta integrada e de alto nível dos sistemas fisiológicos de apoio (os principais fatores fisiológicos implicados são ventilação pulmonar, concentração de hemoglobina, volume sanguíneo e fluxo sanguíneo periférico, além do debito cardíaco.)" (Mc ARDLE, KATCH E KATCH, 1998).

 

A avaliação da capacidade cardiorrespiratória no futsal

 

Devido à ausência de estudo e testes específicos para avaliação da capacidade aeróbica no futsal, convencionou-se o a aplicação do teste de Cooper (12 minutos) e similares com o uso de tabelas de laboratórios de fisiologia do exercício nacionais e estrangeiros com maior ênfase para os últimos. Mas mesmo com o uso das tabelas continuamos sem uma referencia para predizer o que seria um nível ideal de capacidade cardiorrespiratória para os atletas de futsal. Uma maneira fácil de fazer a avaliação do VO2 max. dos atletas seria avaliá-los no inicio das atividades de preparação para a temporada e depois comparar os valores com os obtidos em uma posterior avaliação no final do período preparatório, buscando sempre encontrar um aumento dos valores encontrados nas duas avaliações.

Mas o principal obstáculo para obtenção de elevados níveis de aptidão cardiorrespiratória, tem sido a não observância do desenvolvimento desta no período correto do processo de maturação do organismo do atleta. Muitas vezes os profissionais responsáveis pela iniciação só se preocupam no que tange os aspectos técnicos e esquecem os físicos. A faixa etária ideal para que comecemos a trabalhar a capacidade aeróbica é entre 16 a 20 anos, segundo MELLEROWICZ e MELLER (1987) nos homens ela atinge seu valor máximo entre 18 e 22 anos e 16 a 20 anos nas mulheres. O correto seria buscamos o desenvolvimento da capacidade cardiorrespiratória dos atletas nessas faixas etárias, alcançarmos os valore máximos e só nos preocuparmos em mantê-las no decorrer da carreira desportiva deles. Ao invés do que normalmente ocorre no nosso país que só nos preocupamos com a capacidade aeróbica de um dado atleta do grupo quando o mesmo não se adapta a uma filosofia tática que o obriga a desempenhar as suas máximas condições fisiológicas.

Não esperto que este panorama mude em um curto espaço de tempo, mas espero com este artigo suscitar questionamentos dos profissionais responsáveis pela preparação física dos salonistas.

 

Bibliografia consultada:

 

FERNANDES, José Luis. Treinamento desportivo: procedimentos – organizações - métodos. E.P.U. São Paulo, 1981.

GHORAYEB, Nabil. BARROS NETO, Turíbio Leite. O Exercício: preparação fisiológica, avaliação médica, aspectos especiais e preventivos. Editora Atheneu, São Paulo, 1999.

McARDLE, William D. KATCH, Frank I. KATCH, Victor L. Fisiologia humana – energia, nutrição e desempenho humano. Editora Guanabara Koogan. Rio de Janeiro. 1998. 4ª edição.

MELLEROWICZ, H. MELLER, W. Treinamento físico: bases e princípios fisiológicos. E.P.U. São Paulo. 1987. 2ª edição.

POLLOCK, Michael L. WILMORE, Jack H. Exercícios na saúde e na doença – avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. Editora medica e cientifica, Rio de janeiro, 1993. 2ª edição.

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