A importância da psicologia do esporte para o rendimento do atleta de futsal Parte 2
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MOTIVAÇÃO
A idéia de motivação remete-nos “a uma força interna”, que impulsiona determinadas
ações. Na verdade, essa “força” não está dentro do atleta, mas no ambiente no qual está
inserido. O estudo da motivação é definido por Catania (1984) como estudo das condições
que determinam à efetividade do estímulo contingente como reforçador ou punidor. Ele
considera a motivação um termo aplicado às muitas variáveis ambientais e orgânicas que
tornam determinados estímulos significativos para o organismo.
O termo motivação refere-se a fatores e processos que levam as pessoas à ação ou à
inércia em determinadas situações. As razões que impulsionam os atletas em direção a
determinados comportamentos não podem ser reduzidas a conceitos rígidos, pois variam de
acordo com a história de vida do atleta e as contingências do ambiente, ou seja, um atleta
escolhe determinado esporte e participa dele com determinada intensidade e dedicação de
acordo com experiências anteriores ou situações recentes (CRATTY, 1984),
Para Samulski (1995), “a motivação é um processo ativo, intencional e dirigido a uma
meta, o qual depende da interação de fatores pessoais (intrínsecos) e ambientais
(extrínsecos)”.
A literatura da motivação discute conceitos importantes, como motivação intrínseca e
recompensas externas.
Weinberg e Gould (1984) definem motivação intrínseca pela participação de um atleta
em determinada atividade sem recompensa externa. A motivação extrínseca refere-se às
recompensas externas, como medalhas, dinheiro ou prêmios, que o atleta recebe.
Pesquisadores da área defendem que um atleta se engaja em determinada atividade motivado
por um somatório de fatores intrínsecos e recompensas externas.
Tutko e Richards (1994) reiteram que, provavelmente, o papel mais importante que
um treinador desempenha é o de motivador. Sua personalidade, convicção, fins e técnicas de
motivação é um dos principais elementos para o desenvolvimento das atitudes de seus
jogadores e para o grau de sucesso que estes alcançarão. Portanto, necessita analisar sua
própria teoria de motivação e examinar seus enfoques dessas qualidades que pensa serem
importantes para obter o resultado.
Becker jr. (1996), defini a motivação como um fator muito importante na busca de
qualquer objetivo, pelo ser humano. Os treinadores reconhecem este fato como sendo
principal, tanto nos treinamentos como nas competições. Assim sendo, a motivação é um
elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as
sessões de treinamento.
De acordo com Bergamini (1991), a função motivacional do líder consiste em
recompensar os subordinados pelo alcance dos objetivos traçados, esclarecer as dúvidas,
eliminar os problemas e aumentar as possibilidades de que estes estejam satisfeitos com o
trabalho que desempenham.
Neste sentido, Chellanduri e Arnott (1985) relacionam a motivação do esportista com a
liderança do treinador. A conduta do treinador é dar apoio social, treinamento, instrução e
feedback positivo. A motivação do esportista é um ciclo que começa com a motivação, que
gera esforço, que produz rendimento, que proporciona uma recompensa, que gera satisfação e
conseqüentemente, motivação, fechando o ciclo.
Para Harter (1978), a falta de motivação conduzirá ao aumento da tensão emocional,
problemas disciplinares, aborrecimento, fadiga e rendimento ineficiente. Portanto, quando há
motivação, a realização dos objetivos se torna mais amena e também mais interessante. As
pessoas altamente motivadas para a realização são persistentes no seu comportamento,
buscando assim sucesso na sua atividade (BERGAMINI, 1991).
Samulski (1986, P. 14), “Sobre técnicas de automotivação compreende-se todas
aquelas medidas que uma pessoa aplica assumindo o controle sobre seu próprio
comportamento, para regular seu nível de motivação”.
Em outra referência Samulski (1998) descreve algumas técnicas de automotivação que
podem ser utilizadas por atletas de alto rendimento. Muitos atletas motivam-se por meio da
imaginação de suas capacidades positivas, utilizando mentalizações como: “eu consigo fazer
isto”, “eu acredito na minha preparação”, “eu confio na minha técnica”. Alguns atletas
também se utilizam de auto-reforços materiais (comprar um presente para si próprio) ou autoelogios.
Outra estratégia para manter-se motivado é o estabelecimento de metas concretas a
curto e longo prazo.
COESÃO DE GRUPO
A união ou coesão de um time é fundamental para o bom desempenho esportivo dos
atletas. No esporte, o objetivo é vencer uma partida ou um campeonato, o que, em parte,
depende do esforço coordenado da equipe ou do trabalho de equipe.
Para Weinberg e Gould (2001), a coesão relacionada à tarefa reflete o grau em que
membros de um grupo trabalham juntos para alcançar objetivos comuns.
Carron (1982) define coesão como um processo dinâmico que reflete na tendência do
grupo em permanecer junto perseguindo metas e objetivos comuns.
O nível de coesão é maior em grupos pequenos, em grupos muito grandes a coesão é
menor e o mesmo tende a se subdividir em subgrupos, dificultando o relacionamento entre os
atletas. A proximidade física também é um fator que aumenta a coesão.
É comum perceber que times que passam a pré-temporada em um mesmo local ficam
mais unidos, pois estabelecem uma maior comunicação entre os mesmos. Portanto, o grupo
deve ser uma só unidade, não havendo preferências entre seus integrantes.
Segundo Johnson (in KOHN, 1986), os indivíduos que se sentem aceitos pelo grupo,
exploram com mais segurança e liberdade os problemas que aparecem. Assumem riscos,
analisam suas capacidades e estão mais abertos a aceitarem os seus erros e aprenderem com
eles.
Para aumentar a coesão do grupo é importante ter bem claro que a coesão define-se
pela união do grupo em busca dos mesmos objetivos, portanto é necessário que esses
objetivos sejam claramente definidos e que sofram mudanças de acordo com o progresso do
grupo. É importante também que se encoraje à competição positiva dentro do time, para que
os atletas possam juntos alcançar uma melhora de desempenho, e que cada atleta tenha seu
papel muito bem definido para que todos se sintam responsáveis pelo sucesso da equipe.
Evitar as “panelinhas”, a excessiva rotatividade de pessoal, realizar encontros periódicos entre
os membros da equipe e estabelecer metas desafiadoras de grupo são algumas diretrizes para
o aumento da coesão de grupo segundo Weinberg e Gould, 2001.
Outro fator importante para a coesão grupal é que a comunicação entre atletas e entre
atletas e comissão técnica seja respeitada.
Sendo assim, a coesão é um fenômeno complexo, dinâmico e variável ao longo do
campeonato. A unidade da equipe é um alicerce sobre o qual o grupo irá crescer e ter sucesso
e é essencial para a existência do grupo. Cabe ressaltar que a coesão de um grupo não aparece
de uma hora para outra, sendo oportuno que atletas e comissão técnica trabalhem juntos para
alcançá-la.
ANSIEDADE
Os psicólogos do esporte vêm estudando a relação entre ansiedade e desempenho há
décadas. Eles não chegaram a conclusões definitivas, mas esclarecem aspectos do processo
que têm várias implicações para ajudar os atletas a reagirem e terem melhor desempenho, em
vez de se deixarem abater e atuarem mal (WEINBERG e GOULD, 2001).
O atleta pode ter seu desempenho afetado positivamente ou negativamente em
decorrência do estado emocional pré-competitivo.
A ansiedade é o termo usado para a emoção experimentada quando nos deparamos
com eventos aversivos que podem nos causar dor. A exposição a ameaças causa mudanças
fisiológicas que nos preparam para lidar com essas ameaças. Uma dessas mudanças é o
estreitamento da atenção e, dessa maneira, o atleta fica menos sensível a estímulos externos, o
que pode causar uma queda em seu desempenho global. As mudanças fisiológicas que
ocorrem no organismo consumem muita energia, o que pode interferir em atividades de longa
duração. O excesso de ansiedade causa um aumento de adrenalina, que pode fazer com que o
atleta se apresse em executar ações que requerem atenção e cuidado.
Existem algumas estratégias que podem auxiliar o atleta a lidar com o excesso de
ansiedade e tensão, como aprender a reconhecer e mudar pensamentos negativos, utilizar
afirmações positivas, regular a respiração, manter o senso de humor e fazer relaxamento.
Segundo Fleury (2005), a ansiedade pré-competitiva é um estado emocional que se
caracteriza por nervosismo, preocupação e apreensão que pode ser gerado por nossos
pensamentos (ansiedade cognitiva) ou por reações fisiológicas (ansiedade somática).
Para Martens (apud VOSER, 2003), existem muitas causas para o aparecimento da
ansiedade antes da competição, mas em geral, elas reduzem-se a dois fatores: A incerteza que
os indivíduos possuem acerca do resultado e a importância que o resultado representa para os
indivíduos.
Cratty (1983), afirma que nem toda a ansiedade é prejudicial. O bom desempenho
requer um nível de ansiedade ótimo. Brandão (1995) concorda dizendo que quando isto
acontece o atleta esta psicologicamente em controle.
Para Fleury (2005) certo grau de ansiedade pode melhorar o desempenho desde que os
níveis fisiológicos não sejam excessivos, um pouco de tensão aumenta o esforço e a
concentração de um atleta, o desempenho deteriora-se apenas sob as condições combinadas de
preocupação mais ativação física excessiva (ativação física = tensão, batimento cardíaco,
respiração alterada, sudorese, etc.).
Para Júnior (1998) a ansiedade pode ser positiva ou negativa. Ela é positiva quando a
ansiedade está adequada, existe uma estabilidade emotiva e o atleta possui uma personalidade
sadia. Negativa quando existem tensões emocionais excessivas ou então o atleta não apresenta
nenhum quadro de tensão emocional, ele se mostra ausente em relação à competição.
PERSONALIDADE
Raramente o significado da palavra personalidade é claro para quem o usa, estando,
muitas vezes, vagamente associado e relacionado, em uma primeira análise, com a idéia de
habilidades sociais e, em uma segunda, com a avaliação da impressão marcante que o
individuo causa em outras pessoas.
Os conceitos de personalidade variam dos mais simples (porém não menos
importantes) até mais complexos, sendo que ambos apresentam uma dificuldade de
entendimento e aceitação entre estudiosos e pesquisadores da área.
Butt, Cox e Weinberg & Gould apresentam similaridade no conceito de personalidade
ao considerarem-na o conjunto de características que somadas, compreendem o caráter único
de cada indivíduo.
Historicamente, uma das pesquisas mais realizadas em Psicologia do Esporte refere-se
à relação entre personalidade e esporte (VEALEY, 1992), muitas comparando atletas e nãoatletas,
esportes individuais e esportes coletivos, níveis distintos de rendimento, posição, sexo
e as reações do atleta antes e depois de uma competição esportiva.
Lundin, (1972) baseado na teoria do reforço da aprendizagem, considera a
personalidade como sendo o equipamento singular do comportamento que se adquire através
de uma história de aprendizagem. Tal visão considera a personalidade como parte do campo
geral da aprendizagem, tratando em particular os processos de aprendizagem que implicam no
ajustamento do homem ao seu meio.
Segundo Jung (1981), a personalidade é uma semente que só pode se desenvolver em
pequenas etapas durante a vida. Acrescenta que não é a criança mas o adulto que pode
alcançar a personalidade como fruto de uma vida cheia, orientada para este fim.
Para Hall et al. (1973), cada vez que um organismo aprende uma nova solução,
desenvolve a personalidade, que evolui em resposta a quatro fontes principais de tensão:
processo de crescimento psicológico, frustrações, conflitos, perigos. O aumento da tensão que
emana dessas fontes obriga a pessoa a desenvolver novas maneiras de reduzir a tensão.
A definição de personalidade que mais vem sobrevivendo aos avanços do tema
durante os anos é de Allport de 1937 (apud COX: p.21) preconizando que a personalidade é
“a organização dinâmica de sistemas psicofísicos do indivíduo que determinam ajustes únicos
ao seu ambiente”. Mais recentemente, Alonso apud Hernández - Ardieta et al. (p. 106) definiu
a personalidade como “organização mais ou menos estável e duradoura do caráter,
temperamento, inteligência e constituição física de uma pessoa que determina sua forma
peculiar de se ajustar ao ambiente e interagir com ele”. Nota-se que os autores não
mencionaram somente características psicológicas em relação à personalidade, mas incluem
às físicas, o que aponta para uma maior complexidade através da interação de diferentes
variáveis.
A personalidade representa segundo, Hermann (1975:25), “um conjunto de
características individuais, as quais são relativamente permanentes e estáveis”.
LIDERANÇA
Embora o conceito de liderança tenha sido freqüentemente discutido e várias teorias
tenham sido casualmente referenciadas na literatura esportiva, existe uma lacuna de verdades
consistentes no estudo da liderança no esporte (LOY et alli, 1978, apud CHELLADURAI &
SALEH, 1980).
De acordo com Chelladurai e Saleh (1980), a relevância da teoria da liderança no
esporte torna-se rapidamente aparente quando as equipes esportivas são vistas dentro do
contexto organizacional.
Liderança é a força vital de uma organização de sucesso, e uma liderança efetiva pode
ajudar a organização a desenvolver novas direções e a promover mudanças em direção aos
objetivos propostos (BENNIS & NANUS, 1985).
Griffin e Moorhead (1986) definiram liderança em termos de processo e propriedade.
Como processo, liderança significa o uso de influência não coercitiva para dirigir e coordenar
atividades dos membros do grupo para alcançar uma meta. Como propriedade, significa as
características atribuídas para aqueles que utilizam sua influência com sucesso.
Krettner e Kinick (1989) a definiram como um processo de influência social, no qual o
líder procura por participação voluntária dos subordinados, num esforço em alcançar os
objetivos da organização.
Do ponto de vista da organização, liderança é uma característica vital, porque ela
exerce poderosa influência sobre um indivíduo ou grupo. Entretanto, devido ao fato dos
objetivos aos quais o grupo dirige seus esforços serem sempre aqueles desejados pelo líder,
eles podem não coincidir com os objetivos da organização.
Em suma, liderança significa habilidade em influenciar os outros no cumprimento de
objetivos e metas organizacionais.
CONCLUSÕES, LIMITAÇÕES E ENCAMINHAMENTOS DE NOVOS ESTUDOS.
Através da pesquisa consegui observar e concluir que treinar um atleta ou uma equipe
de futsal de auto-rendimento física, técnica e taticamente sem levar em consideração os
aspectos psicológicos, que os influenciam, não garantem ao treinador conseguir o máximo
desempenho desse atleta, podendo ser esse o diferencial entre a vitória e a derrota ou entre a
primeira e a segunda colocação em uma competição. Portanto, é de vital importância para o
desempenho dos jogadores e do sucesso da comissão técnica a presença do profissional de
psicologia para que este trabalhe em conjunto com as demais áreas do esporte de forma
multidisciplinar e interdisciplinar.
Entendo que a Psicologia do Esporte prepara o atleta de futsal para enfrentar as
diferentes solicitações de uma competição, no entanto essa preparação não será eficiente se
acontecer exclusivamente em fases agudas da competição, como ocorre normalmente, ou
quando a equipe ou um atleta apresentar resultados negativos e que, geralmente, são
atribuídos a uma má preparação psicológica. Essa preparação psicológica deve acontecer
naturalmente, como parte do processo de treinamento tal e qual o trabalho de preparação
física, técnica e tática, fato que nem sempre acontece devido à estrutura das equipes e à falta
de informação.
Acredito que a Psicologia do Esporte está principiando um caminho promissor, no
aguardo do reconhecimento que merece, tendo em vista a dialética trajetória assumida, de
questionamentos geradores de respostas que precipitam novas questões.
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do Exercício
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